Por que assistir à série MAID, da Netflix?

Por que assistir à série MAID, da Netflix?
Tempo médio de leitura: 3 minutos

Contém spoilers…

 

Se você ainda não viu MAID, você PRECISA. Listarei motivos:

 

  • Aprende-se que violência psicológica e patrimonial são tipos de violência, sim.
  • Vê-se sororidade.
  • É lindo ver a protagonista conseguir vencer, após passar por tanta coisa…

A protagonista, Alex, vive com seu marido e filha. Uma noite, ela carrega a filha e foge. Através de flashbacks vamos compreendendo os motivos: o marido é alcóolatra e se tornou mais agressivo que o habitual. Com medo, ela sai de casa.

Ao sair de casa, Alex percebe que o mundo pode ser um lugar bem complicado para uma mãe solteira, mas ela está disposta a conseguir sua independência e segurança. Ela começa, então, a trabalhar como faxineira (“maid”). Alex tem uma mãe com bipolaridade não diagnosticada que se recusa a tomar medicamentos necessários em sua situação. Com isso, ela é extremamente instável emocionalmente. O pai de Alex é distante, não é exatamente um exemplo de pai. Ela se vê sozinha com a filha, sem dinheiro e sem muitas opções.

Aí está a beleza da série: de forma leve (apesar do tema), com uma linguagem interessante, vamos vendo o crescimento de Alex. Primeiro, porque ela compreende sua própria situação: ela entende que sofre violência psicológica e patrimonial e que, sim, são formas de violência. “Nem sempre a agressão deixa hematomas”, como é dito na série, em um dado momento.

Ela vai para um abrigo para vítimas de violência doméstica e lá ela começa a encontrar sororidade. A responsável pelo abrigo é uma figura maternal, amorosa, que a chama de “Baby girl”. As mulheres se ajudam e Alex ganha forças para lutar por dias melhores. Surpreendentemente, ela vai aprendendo a ver a mãe com olhos mais pacientes e carinhosos e as duas veem o relacionamento melhorar muito. Alex descobre que ela e a mãe são bem mais parecidas do que ela supunha… E a sororidade vem também de um lugar que parecia super improvável: uma das mulheres que contrata seus serviços parece ser fria, distante e até um pouco cruel. Mas, com o tempo, uma vai modificando a outra, ajudando-se e trazendo um lado mais amoroso, mais solidário, e essa relação se transforma em uma amizade que modifica, positivamente, as vidas das duas.

Alex é uma heroína como todas as mulheres, pois tem força, mas cai também. Cai ao voltar para o marido agressor, em um dado momento. E cai porque essa volta a leva novamente para a situação da qual ela queria sair. Deprimida, ela se afunda no sofá (em posição fetal, completamente sem energia). A série faz com que a cena do ápice de sua depressão seja mostrada com Alex sendo, literalmente, tragada para dentro do sofá. Quem já sofreu de depressão sabe que essa é uma sensação recorrente: a de que se está preso a um sofá ou a uma cama e este móvel parece puxar a pessoa que permanece, assim, completamente sem força, sem ânimo. É como se a energia vital tivesse desaparecido e Alex mostra muito bem esse quadro.

É maravilhoso ver quando ela consegue, finalmente, sair desse torpor. A série mostra Alex literalmente no fundo de um poço e vemos o exato momento em que algo nela muda e ela se levanta, novamente forte. Sentimos alívio e alegria por ela. O motivo que a faz se reerguer é a filha: quando ela vê que essa vida está prejudicando a criança, elas deixam a casa novamente, e dessa vez para não mais voltar.

É lindo ver cada vitória de Alex. É importante sofrer com cada um (e são vários) dos obstáculos que ela enfrenta. A série tem um final feliz e é ótimo que tenha: torna-se uma boa opção de entretenimento, ao mesmo tempo que traz, sim, reflexões. Uma das reflexões com a qual me deparei foi: que tipo de mulher eu sou? Eu sou do tipo que fortalece outras mulheres, como vemos em Maid?

Vale a pena pensar a respeito…

Raquel Andrade

Raquel Andrade é graduada em Letras (UFMG) , tendo cursado um semestre na Wayne State University (Michigan, Estados Unidos), onde estudou literatura e cinema. Mestre em Literatura (UFOP), dissertou sobre o livro “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë, e três adaptações deste romance. Já lecionou idiomas em várias escolas e atualmente é autônoma, ainda trabalhando com ensino de línguas e tradução. Traduziu um conto de Hemingway e já realizou tradução consecutiva, entre outros trabalhos. Apaixonada por livros, séries, filmes e tudo que envolva a sétima arte.

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