Um Senhor Estagiário (The Intern)

Um Senhor Estagiário         (The Intern)
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Nesta semana a Netflix incluiu em seu catálogo um filme de 2015, mas que vem a calhar no atual contexto em que vivemos. Mas o que a história de um aposentado que se candidata a uma vaga de estagiário pode ter a ver com a crise do coronavírus que nos assola? Não demorarei a explicar, mas primeiro vamos ao enredo.

Jules (Anne Hathaway) dirige uma loja de roupas online, conseguindo aumentar a sua empresa e ganhar destaque em pouco tempo. No entanto, a rotina corrida, de constante atualização, que não permite que haja tempo nem para comer ou dormir faz com que ela esteja sempre atrasada para as reuniões ou se esqueça de projetos que ela mesma aprovou dentro da empresa, como foi o caso do programa de estagiários sêniores. Embora ela não se lembrasse de ter concordado em contratar pessoas idosas para trabalharem como estagiários e nem esteja totalmente à vontade com a ideia, ela acaba aceitando ter um estagiário “seu”. O sortudo (ou nem tanto) é Ben (Robert De Niro), um aposentado que já fez várias viagens e se envolveu em várias atividades desde que se tornou viúvo, mas que sente falta da rotina de trabalho. Podemos dizer que Ben e Jules são opostos complementares e necessários, como o símbolo representante do Tai Chi (cuja prática aparece no filme): de um lado, alguém empreendedor e cheio de energia, de outro alguém com muita experiência e tranquilidade.

Voltemos à questão da relação entre o filme e a nossa experiência atual. Com a crise do coronavirus, vimos uma face da nossa sociedade que pode assustar: a desconsideração com as pessoas idosas e a necessidade de atualização e rapidez constantes que não permitem muitas vezes que uma notícia seja conferida antes de ser compartilhada. Assim, sofremos de uma infodemia a respeito da pandemia que piora toda a situação, ao mesmo tempo em que ouvimos coisas como “esta doença só vai atingir as pessoas idosas, não precisamos nos preocupar”. A princípio, Jules parece pensar que uma pessoa mais velha seria incapaz de acompanhar seu ritmo, o ritmo das novas tecnologias. Além disso, Ben havia trabalhado a vida toda com algo que hoje em dia pode-se considerar obsoleto: listas telefônicas. Não é esta muitas vezes a sensação que algumas pessoas podem ter quando se aposentam? A de que boa parte da vida foi investida em um trabalho que já não é mais reconhecido, seja pela sociedade ou pelos governos – vide as propostas de reforma da Previdência que tentam nos empurrar garganta abaixo. No entanto, ao longo da trama Jules (assim como todos os outros jovens trabalhadores da empresa) passa a reconhecer o quanto pode aprender com Ben, sua experiência de vida e sua habilidade nos negócios. Jules aparentemente começa a aprender a desacelerar, a refletir, e tudo isto é decorrente de um crescente respeito a alguém que já viveu muito do que ela ainda está por viver. Tenho a impressão de que este filme entrou para o catálogo como uma forma de aprendizado que aquece o coração: em vez de aumentar nosso pânico assistindo a histórias de pandemia e desastres, podemos escolher assistir a um filme que a todo momento pode deixar os mais emotivos com os olhos marejados – mas com lágrimas de felicidade pelo reconhecimento de nossos pais e avós nas atitudes de Ben.

Mayra Marques

Doutoranda em História pela UFOP, violinista e leitora eclética. Leio porque é escrito, se fosse líquido, bebê-lo-ia!

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