DARK

DARK
Tempo médio de leitura: 3 minutos

Após um “longo e tenebroso inverno”, estou de volta com minhas resenhas. A pandemia teve um efeito em mim de tamanho pânico que não estava conseguindo me concentrar para ver filmes e séries e escrever a respeito. Eis que, então, resolvo investir meu tempo assistindo justamente a que série???? Dark

Dark exige toda a atenção e foco possíveis. Há, inclusive, quem recomende que você tenha perto caneta e papel, para fazer anotações.  

Então, como é possível que uma pessoa que está vivendo um momento no qual não consegue se concentrar venha a assistir (e amar) algo tão complexo??? Simples razão: Dark é maravilhosa.

Não se preocupe com spoilers: procurarei evitar estragar as surpresas. Além disso, existe um aspecto que diferencia Dark de outras séries e filmes e é uma de suas belezas: mesmo após assistir tudo, não quer dizer que acabou. Você ainda vai tentar entender várias coisas… Ainda vai buscar respostas. Não que o fim seja insatisfatório, pois não é. É belíssimo. Mas há possibilidades que geram boas e profundas discussões… Uma máxima repetida na série- “o começo é o fim, o fim é o começo”- vale também para o que ocorre ao terminar a última temporada: você vai querer rever tudo, ou pelo menos conversar (e muito) sobre detalhes, possíveis explicações e símbolos.

Então, vamos lá:

A história se passa em uma cidade alemã, chamada Winden, um local pequeno, onde todos se conhecem (ou acham que se conhecem…). Coisas misteriosas começam a acontecer: um homem se suicida, aparentemente sem uma razão conhecida, nem mesmo por sua família. O filho, Jonas, entra em depressão e se afasta dos amigos. Quando retoma o contato com eles, outros eventos acontecem: um corpo de criança é encontrado e outra criança desaparece, tendo início uma busca na cidade.   

O roteiro parece, a princípio, ser o de uma série policial. Mas não é… Dark é ficção científica e trata de assuntos como viagem no tempo, realidades paralelas e vários outros assuntos complexos, que flertam com filosofia e questões existenciais, como os conceitos de destino, de livre arbítrio, etc…

Personagens começam a viajar no tempo e se encontram com eles mesmos, em suas versões “passado e futuro”. Há também encontros com seus pais ou filhos, em outros tempos, e sentir-se completamente desorientado é inevitável. “Esse é quem mesmo?” é algo que você vai perguntar várias vezes, certamente. A coisa toda fica mais confusa quando percebemos que há uma repetição de eventos e uma espécie de looping: é como se os personagens estivessem fadados a sofrer eternamente, vivenciando perdas e culminando em um apocalipse a cada 33 anos…

Jonas, o rapaz cujo pai se suicidou, se enxerga como aquele que precisa modificar essa realidade, fazendo cessar esse eterno retorno e esse inevitável fim apocalíptico. Mas ele não tem noção de como fazê-lo e tem-se a impressão de que é constantemente ludibriado por outros personagens.

Ele fica completamente perdido. E nós também…

Então, com tanta confusão, por que assistir Dark?

Porque, ao fim, (quase) tudo faz sentido. A história é muito bem escrita, cada detalhe tem uma razão, um motivo. Com apenas 3 temporadas, Dark não “enrola”: por mais complexa e confusa que seja, existe coerência. Você chega a uma conclusão (ainda que algumas dúvidas permaneçam).  O fim deixa abertas algumas portas para futuros debates, que podem ser bem instigantes.

Dark nos tira de nossa zona de conforto. O tempo não é linear. É necessário estar alerta, prestando atenção inclusive a detalhes que, em outras séries, seriam meros detalhes, mas não em Dark. É possível fazer analogias com outros filmes e esse exercício é prazeroso. Há referências bíblicas, referências à mitologia grega… Há conceitos de física, há questionamentos filosóficos… É um pacote completo para quem gosta de pensar, de raciocinar, de se desafiar.

Mergulhe nesse universo de Dark. Você ficará sem chão. E isto é maravilhoso. Afinal, como é dito na série:

“O que sabemos é uma gota. O que não sabemos é um oceano”…

 

 

Raquel Andrade

Raquel Andrade é graduada em Letras (UFMG) , tendo cursado um semestre na Wayne State University (Michigan, Estados Unidos), onde estudou literatura e cinema. Mestre em Literatura (UFOP), dissertou sobre o livro “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë, e três adaptações deste romance. Já lecionou idiomas em várias escolas e atualmente é autônoma, ainda trabalhando com ensino de línguas e tradução. Traduziu um conto de Hemingway e já realizou tradução consecutiva, entre outros trabalhos. Apaixonada por livros, séries, filmes e tudo que envolva a sétima arte.

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