Anne with an E

Anne with an E
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Hoje falarei sobre Anne with an E, série canadense que está disponível na Netflix. Essa série, baseada no livro Anne of Green Gables, da autora Lucy Maud Montgomery, já está na terceira temporada e é simplesmente um must see: todos deveriam vê-la e direi a razão…

A partir de agora, haverá spoilers…

Anne with an E conta a história de uma órfã que é enviada para dois irmãos, já idosos, por engano. Irmão e irmã, ambos solteiros, cuidam sozinhos de uma fazenda. Ao atingir idades mais avançadas, sentem a necessidade de ter ajuda de alguém mais jovem. Pedem que o orfanato lhes envie um menino, mas recebem, com surpresa, uma menina: Anne. A princípio, a irmã decide que Anne deverá ser devolvida ao orfanato no dia seguinte, enquanto o irmão já está apegado a ela.

O que esta série tem de especial? Por que ela cativa tanto as pessoas? E por que todos deveriam vê-la? A resposta das três perguntas é a mesma: porque, em certa medida, somos todos “Anne”. Todos- e cada um de nós- já se sentiu deslocado. Já sentiu o peso da solidão. Já sentiu que esse mundo pode ser um lugar hostil. E com certeza, cada um a seu modo, já buscou, desesperadamente, a aprovação daqueles que nos cercam. É impossível não se identificar com as questões de Anne. Por mais específicas que sejam na história, elas são, ao mesmo tempo, universais. Anne sofre bullying pela cor de seu cabelo. Por ser magra demais. Ela é chamada de feia. Ela se sente descartável.

Mesmo em meio a toda essa dor, porém, Anne tem uma ferramenta que lhe permite sobreviver: a imaginação. Nada é visto por ela como os outros veem: um rio, uma árvore, flores, tudo é mágico. Anne enxerga o mundo com olhos amorosos e criativos. Ela recebe hostilidade, mas devolve afeto. Sua resiliência é impressionante. Vamos vendo, através de flashbacks, os horrores pelos quais ela já passou. Coisas que quebrariam a maioria das pessoas. Mas não ela: Anne segue buscando ter uma família, buscando ser amada. Um otimismo e uma força imensos, que lhe permite modificar as pessoas ao seu redor, trazendo o melhor delas, quando o esperado seria o contrário: que o sofrimento a modificasse, a tornasse amarga.

A fotografia da série é outro presente: paisagens belíssimas, que vemos através dos olhos encantados de Anne. Vamos aprendendo com ela a ver a beleza nas pequenas (grandes) coisas do mundo. Nossos olhos, muitas vezes cansados e destreinados demais para apreciar a beleza das coisas simples (e ainda assim grandiosas) vão sendo modificados e passamos a perceber como há poesia em tudo- basta querer ver.

E as frases de Anne? Há coisas que ela diz que nos dá vontade de pausar a cena, anotar e guardar. Essa pequena Anne é um poço de sabedoria. E são muitas frases, considerando que Anne fala, fala, fala, sem parar… Vejo essa característica como uma de suas tentativas em sua busca por afeto e aceitação: ela não para de falar, porque parece querer mostrar tudo que sente e pensa, para conseguir provar que é alguém interessante. E vai conseguindo…

Você está estressado (a)? Cansado (a)? Você sente que o mundo se tornou um lugar duro, áspero? Você sente que as pessoas estão o tempo todo prestes a discutir e ser rudes umas com as outras? Se você respondeu sim a pelo menos uma dessas perguntas, tenho um conselho: assista Anne with an E. Você verá que não importa como é o mundo ao seu redor, mas sim como você escolhe enxergar o mundo. Anne nos mostra que é possível ver encantamento nas pequenas coisas. Há beleza nas coisas corriqueiras. E é possível passar pelo mundo que nos maltrata e não deixar que ele nos quebre.

Nos dias de hoje, conseguir manter nossa autoestima, bom humor, imaginação e otimismo, requer coragem.  Anne tem essa coragem. E você?

Raquel Andrade

Raquel Andrade é graduada em Letras (UFMG) , tendo cursado um semestre na Wayne State University (Michigan, Estados Unidos), onde estudou literatura e cinema. Mestre em Literatura (UFOP), dissertou sobre o livro “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë, e três adaptações deste romance. Já lecionou idiomas em várias escolas e atualmente é autônoma, ainda trabalhando com ensino de línguas e tradução. Traduziu um conto de Hemingway e já realizou tradução consecutiva, entre outros trabalhos. Apaixonada por livros, séries, filmes e tudo que envolva a sétima arte.

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