Como pode o inútil ser mais útil que o útil?
Será que devemos aprender, ensinar, adquirir, só aquilo que é útil, ou seja, somente aquilo que possa ter uma aplicabilidade, uma utilização imediata?
Vivendo em sociedades profundamente utilitaristas, conseguimos ver algum valor na literatura, na ciência teórica, na matemática teórica, nos questionamentos filosóficos?
Devem as universidades ser administradas unicamente a partir da perspectiva do lucro? E a qualidade do ensino, da formação humana, aonde fica?
Principais questionamentos
Logo na introdução, Nuccio Ordine deixa claro qual é seu objetivo “há saberes que têm um fim em si mesmos e que podem desempenhar um papel fundamental no cultivo do espírito e no crescimento civil e cultural da humanidade. Nesse sentido, considero útil tudo o que nos ajuda a nos tornarmos melhores”.
O livro é dividido em 4 partes, além da introdução; “A útil utilidade da literatura”, “A universidade-empresa e os estudantes-clientes”, “Possuir mata: dignitas hominis, amor, verdade” e um apêndice escrito por Abraham Flexner, “A utilidade do conhecimento inútil”.
De um modo geral, o autor defende o ensino, a pesquisa, a literatura, a matemática, as ciências, a curiosidade como valores em si mesmos; não têm e não devem ter utilidade de mercado ou uso imediato. Para ele, é a curiosidade que move o ser humano.
As descobertas científicas nunca pertencem a um só sujeito, sempre a uma coletividade de pesquisas. E as maiores descobertas partiram de estudos teóricos sem, a princípio, nenhuma aplicabilidade prática. Daí o seu valor. Os usos negativos são responsabilidade de governos e daqueles que promovem a guerra, não tendo sido as motivações iniciais.
Meu ponto de vista
Pessoalmente, a parte três me cativou profundamente, ao tratar da importância da “inútil” filosofia e na declaração de que “possuir a verdade significa matar a verdade”, ou seja, todo aquele pesquisador que tem muita certeza a respeito daquilo que estuda, já matou o conhecimento produzido, pois o objetivo do conhecimento deve ser a sua busca constante, não a formação de verdades absolutas. Simplesmente esplêndido!
Certamente, uma leitura inútil na categoria das mais úteis, pois o autor nos põe a refletir, a partir de inúmeros exemplos, diferentes escritores, filósofos, pesquisadores, ao longo do tempo, vindos de campos completamente distintos. Para o autor, “o homem moderno, que não tem tempo para se dedicar a coisas inúteis, está condenado a se tornar uma máquina sem alma” e, mais à frente, “o homem que não compreende a arte torna-se escravo e autômato, um ser que sofre, incapaz de rir e se alegrar”.
O que vocês acham? Quais conhecimentos “inúteis” são absolutamente úteis para vocês?